O que é a Conferência dos Oceanos?

A Conferência dos Oceanos é uma mobilização para incentivar que nações do mundo todo se comprometam com a preservação dos oceanos. O evento promove ciência, tecnologia e inovação para criar soluções que evitem o declínio da saúde dos oceanos, observado nas últimas décadas.

Para entender melhor qual é a importância dos oceanos para a vida no planeta, a Órigo conversou com a doutoranda em Recursos Pesqueiros e Aquicultura pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e Ciências do Mar pela Universidade de Montpellier, Katia Aparecido. Acompanhe a leitura!

Qual é a importância dos oceanos?

“A vida começou nos oceanos. Já está aí um indício de que eles têm uma importância muito grande para nós. Os oceanos são responsáveis por regular a temperatura da Terra, pela produção de oxigênio (O2) e também  pela absorção de dióxido de carbono (CO₂)”, explica Katia.

Engana-se quem pensa que a contribuição desse imenso corpo de água salgada é pequena. De acordo com uma reportagem publicada no National Geographic, os oceanos absorvem um terço das emissões de CO₂ da humanidade. Além disso, controlam 90% do excesso de calor gerado pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa. 

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Segundo a especialista, outra grande importância dos oceanos diz respeito à alimentação. “Muitos povos ainda são extremamente dependentes dos recursos pesqueiros, especialmente quando pensamos na pesca de subsistência”.

“Também há a pesca industrial, como a de atum e salmão. No Brasil nem tanto, mas em países como China e Japão, que consomem esses peixes e frutos do mar em grande quantidade, a disponibilidade de recursos pesqueiros é muito importante”, complementa Katia.

A profissional relata também que, embora o contato com a vida marinha seja pequeno para a maioria das pessoas, é importante ter consciência de que os oceanos são o abrigo de uma imensa variedade de espécies, que precisam ser preservadas e que desempenham funções extremamente importantes no meio ambiente.

O papel da Conferência dos Oceanos

Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), a Conferência dos Oceanos realizada em 2022, acontece em um momento em que o mundo corre contra o tempo para mobilizar, criar e promover soluções que permitam o alcance dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável antes de 2030. 

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A organização aponta que é necessário a humanidade caminhar rapidamente a uma gestão responsável e sustentável dos oceanos, evitando, reduzindo ou eliminando ameaças que comprometem a saúde dos biomas aquáticos: acidificação, lixo marinho, poluição e pesca ilegal, por exemplo.

“Eu acredito que a Conferência dos Oceanos, que vem acompanhada da Década do Oceano, são eventos essenciais, porque geram um espaço de debate e troca de conhecimento muito grande. Não só entre especialistas, mas também entre as diversas camadas da população, o que acaba quebrando esse muro que existe entre a ciência e as pessoas”, afirma Kátia.

“Esse tipo de evento também é super positivo, porque cria um espaço de visibilidade para a temática dos oceanos, aproximando os especialistas e conversando sobre problemas e soluções”, arremata.

 Década do Oceano

A Década do Oceano, que compreende os anos de 2021 a 2023, foi declarada pela ONU um período, no qual se deve garantir que a ciência oceânica apoie os países na implementação da agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável.

Segundo uma divulgação da USP sobre o tema, é necessário proporcionar alicerces, por meio da interface ciência-política, para fortalecer a gestão dos nossos oceanos e zonas costeiras em benefício da humanidade nos próximos anos.

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Principais interferências humanas nos oceanos

Segundo a cientista marinha, há diversas interferências humanas que prejudicam a saúde dos oceanos. No entanto, as principais passam pela poluição, pela sobrepesca e pelo turismo, veja:

Poluição

Katia esclarece que há dois tipos de poluição, a visível e a invisível. “A visível é aquela onde nós podemos citar como exemplos o descarte incorreto do lixo, os derrames de petróleo e as redes de pesca. Já a invisível, compreende coisas como os microplásticos e a contaminação das águas por metais pesados”.

Para ela, toda essa poluição é ruim, não apenas para a saúde dos oceanos, mas também para a saúde humana. “Um peixinho contaminado por mercúrio, por exemplo, pode ser comido por um peixe maior, que é comido por outro peixe maior, que porventura, pode ser pescado e chegar nas nossas mesas”, explica.

 Ilhas de plástico ou ilhas de lixo

A poluição visível é tão alarmante nos oceanos, que hoje temos cinco ilhas de lixo espalhadas pelos oceanos. A maior delas é a Great Pacific Garbage Patch, uma área de superfície de 1,6 milhão de quilômetros quadrados, completamente abarrotada de plástico e outros materiais de descarte sólido. Para se ter uma ideia da dimensão do problema, esse número equivale a 17 vezes o tamanho de Portugal.

Sobrepesca

De acordo com a especialista, a sobrepesca acontece quando a quantidade limite de pesca de uma determinada espécie é excedida. “Isso acontece por diversos motivos, como por exemplo, o nosso hábito de consumir poucas espécies de peixes”, ressalta.

“Quando nós não diversificamos o nosso consumo de peixes, acabamos gerando uma pressão pesqueira muito grande nessas espécies. Enquanto isso, outras espécies que também são capturadas pelas redes de pesca, acabam sendo descartadas sem vida, gerando desperdício e prejuízos para a biodiversidade marinha”.

Turismo

Por fim, Katia explica que outra interferência relevante dos seres humanos na vida marinha é o turismo. “Há uma crescente na quantidade de cruzeiros, praias e regiões importantes para a biodiversidade marinha, como recifes de corais, que antes eram inexploradas, mas que agora estão lotadas de turistas”.

Quais são os principais desafios da preservação dos oceanos?

“Acho que o principal desafio é a conscientização da população. Nós precisamos reconhecer que sem os oceanos não há vida”, afirma a pesquisadora. “Só a partir desse reconhecimento, vamos conseguir implementar políticas que realmente funcionem, que sejam efetivas”.

Katia explica, também, que outro desafio é a distância que os oceanos têm das nossas vidas. “É muito difícil nós criarmos conexões e preocupações com o que é desconhecido ou com o que a gente não vê. Quando vamos à praia, nós temos um contato muito superficial com o oceano, vemos aquela faixa de areia, mas mal conhecemos o que há no fundo e além”.

Hábitos para ajudar a preservar os oceanos

De acordo com a cientista, existem muitos hábitos simples que podemos adotar no nosso dia a dia para ajudar na preservação dos oceanos, veja só:

Alimentação consciente

“Se os peixes e os frutos do mar fazem parte da sua dieta, você pode procurar saber quais são as épocas de reprodução das espécies que você consome para não sobrecarregá-las. Procure saber de onde vem seu peixe”, afirma Katia.

Uma boa dica é conversar com o seu peixeiro. “Veja o que ele tem a propor, pergunte quais peixes estão vindo bastante no barco de pesca, mas que não têm uma saída tão grande ou mesmo se ele tem algum peixe que irá descartar, mas que poderia vender para você provar e ver como é o sabor”, aconselha.

Turismo responsável

“Se você vai à praia, seja responsável pelo seu lixo e descarte em um local apropriado, mesmo que ninguém ao seu lado esteja fazendo, dê o exemplo por si e pelos outros. Se existe espaço na sua sacolinha de lixo, por que não pegar o lixo que está ao seu redor?”. Para a especialista, é preciso que a gente treine mais esse pensamento coletivo. 

Outra coisa importante, segundo Katia, é entender se o turismo que você está praticando é prejudicial para o meio ambiente e para a vida marinha, por exemplo em mergulhos.

“Quando você for fazer um mergulho, tente se informar se aquele local é um local apropriado para isso. Questione e pesquise se a presença humana naquele local está prejudicando a vida existente lá. Áreas de recifes de corais, por exemplo, são extremamente sensíveis, uma pequena pisada, mesmo que sem querer, mata um coral e os corais são essenciais, pois abrigam milhares de outras espécies”, afirma.

Consumo consciente

O consumo consciente está relacionado a uma mudança de comportamento, que evita desperdícios, colabora com o planeta e gera economia. Ao consumir de forma consciente, você não só procura saber qual é a cadeia produtiva e os impactos dos produtos que compra para o meio ambiente, mas também é responsável pelo seu descarte correto.

Saiba mais em: o que é, sua importância e práticas

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